terça-feira, 24 de março de 2015

2 Outonos


Filhote,
O seu dia amanheceu silencioso, com o sol cuidadoso entrando pela janela amarela, a mesma janela que te testemunhou chegando para essa aventura na Terra.
A sensação de estar embaixo d'água demorou-se por dias, uma quietude imensa e os sentidos todos voltados para a cria. Os dias e noites intensos e de tamanho significado que a memória não consegue afagar tudo e dois anos é muito tempo...
Tempo de correr, de pular com os pés juntos, de se balançar, de se equilibrar na bicicleta pegando um embalo, de falar cada dia um monte de palavras e expressões novas, de manifestar gestos sutis e divertidos, de contar história, de pedir mil vezes a mesma história "de movo", de escolher a roupa, de se jogar, de brincar sozinho, de brincar junto, de pedir pelos amigos, de comer (e de não comer), de abraçar, de beijar, de mamar, de pedir colo, de gargalhar, de levar susto, de chorar, de mamar, de amar, de amar.... e de tantos infinitos movimentos.
O dia termina quieto, o outono chegou, as folhas começaram a amarelar, frutas aqui e acolá caem e se oferecem generosamente, a floresta anuncia um movimento de atentar ao céu azul e os maricás contam de frio que em breve se aproxima...
Feliz Aniversário, meu amor!
Que presente precioso é ser sua mãe!
Gratidão por confiar em mim!

assinado: sua Mamãe

segunda-feira, 24 de março de 2014

Carta/ relato - de parir


Relato de Parto – Nascimento do Antônio

“são as águas de março fechando o verão, é promessa de vida no teu coração...” (Tom Jobim)

O verão se encaminhava para o fim e até então um calor escaldante nos fez entrar na banheira – que ficou na varanda/puxadinho – algumas muitas vezes... A maioria das roupas não estavam lavadas, estava finalizando trabalhos na escola e me obriguei a afastar para dar conta de organizar a casa para a chegada do nosso filho.
E a chuva veio, águas de março fechando o verão deixaram-me tensa: onde as roupas secam? Morar em comunidade é ter uma família gigante, uma mãe querida deixou as roupas todas secarem na secadora.
Quase tudo pronto, dobrado e ajeitado... a mala do Antônio pronta, com nome em tudo.
Fechamos 38 semanas, barriga enorme, andando devagar, uma mansidão e ansiedade se intercalavam no peito. Li muito, ouvi mais ainda e carregava o medo de não conseguir, medo da grande passagem, medo de não dar conta... E deixei tudo vir à tona, conversando comigo, com os outros, com o bebê...
Dançava todos os dias e era bonito ver a barriga se mexendo, o corpo se renascendo para dar amplitude para cada movimento. Me olhei todos os dias, namorava a barriga e ensaiava respirações, ensaiava a dança, me preparando para entrar no palco e embora treinasse, não se tem a mínima ideia de como será aquele espetáculo. Escrevi o plano de parto, aspirando que tivéssemos um parto de respeito e de amor.
A equipe que escolhemos para nos acompanhar inspirou confiança e nos desafiava a olhar pra dentro... nos apaixonamos por cada um.
O último dia em que nos encontramos com a doula Zezé a conversa ressoou em lugares desconhecidos e a volta pra casa demorou muito.
A última consulta com Dr. Ricardo e a parteira Zeza foi muito importante também. Estava me sensibilizando para o nascimento em casa, depois de ler “se me contassem sobre o parto” do Leboyer quando chorei ao ver uma fotografia do quadril da mulher, dos ossos e do espaço estreito que o bebê passa para nascer. Sabia que tinha uma equipe que garantiria um parto digno pra mim, mas não estava segura sobre como meu bebê seria recebido no hospital... E perguntei: “e se quiser ficar em casa?” ao que Dr. Ricardo respondeu: “você vai ter que me convencer”.
Aquela conversa abriu o espaço para me jogar no desconhecido e confiar. Sem muitos planos ou expectativas, mas aspirando um parto natural.
Há um ano atrás, minha bolsa estourou ao sair da casa de uma amiga, senti o líquido escorrer e na hora meu corpo gelou. Senti que chegara a hora. Mesmo assim, uma amiga doula que também estava por lá veio conversar comigo e com meu marido e muito calmamente nos disse para ligar para nossa doula e que sim, era a bolsa.
Viemos para casa e o percurso parecia infinito... liguei para a doula que nos orientou a ir para o chuveiro e ficar atentos a alguma contração.
Chegamos e fui para o chuveiro, fiquei sentada numa bola e as contrações embalaram... Uma amiga veio e fez a minha mala e do meu marido. Liguei o rádio e selecionei música de samba, de afro... Enquanto eu falava onde as coisas estavam e o que deveria pegar para colocar, meu marido passava o recado de outro jeito... eu ria por dentro, mas já estava começando a me concentrar no que acontecia com meu corpo. Eu oscilava entre estar ali e aqui.
Pedi para chamar a equipe, pelo menos alguém para me ver, pois depois de uma hora as contrações seguiam de 2 em 2 minutos e estavam ficando muito intensas.
Eles chegaram de mala e cuia e a presença deles foi suficiente para eu liberar qualquer apreensão e me entregar para a catarse que foi o trabalho de parto. No primeiro exame de toque levei um susto, porque acho que a única coisa que eu não sabia era que esse exame era feito durante a contração e aquilo me deixou mais tensa... No segundo estava com 3 de dilatação... pensava: uau, só 3 e estou nesse estado já!
Fiquei bastante tempo no chuveiro e as contrações iam aumentando de intensidade... Era madrugada, estava tudo quieto e escuro, o som era da água, das minhas respirações e dos meus urros.
Na mente muitas frases, consolos, choros... mas eu não conseguia externalizar quase nada, entre uma contração e outra eu quase deitava no chão... Sentia muito cansaço e os intervalos eram muito rápidos.
As contrações parecem ondas de mar mesmo e provavelmente essa metáfora me levou para o oceano... Lembrei de levar alguns caldos no mar, da sensação de medo e da impossibilidade de fazer qualquer coisa. Era apenas se entregar e deixar passar. E deixei o mar me tomar, o mar que avançava dentro e fora.
Lembro que logo que começou pensei: é isso. Chegou a hora e não adianta arrumar a casa, pentear o cabelo, não há o que adiar. É o que se tem para viver agora. Então: vamos viver, do avesso e inteiro.
Eu tremia, tremia inteira. Os dentes, as mãos, tudo. Meu marido pegou um casaco de flanela para eu vestir quando saía do chuveiro. Lembro que na vida tremer sempre me causava um constrangimento para mim mesma... me lembrava de alguma Vanessa frágil, da qual eu não gostava. Mas ali, tremer não me incomodou... eu acolhi e deixei a Vanessa tremer. Conectei com a dança afro, que trouxe para a  superfície a energia e a força da terra: dançando aprendi que podia ser delicada e forte.
Percebia tudo muito nebuloso, escutava as vozes que me incentivavam, lembro da Zeza, me chamando a fazer cócoras quando vinha a contração... Lembro que a sensação era de nenhuma força, mas ela pegou nas minhas mãos, olhou dentro e desceu junto comigo, respirou junto comigo e subiu, junto comigo. Foi uma vez, mas suficiente para me lembrar que eu podia fazer.
No terceiro exame ouvi “7” e sabia que estava perto, sabia que estava chegando no ápice... Sabia tudo de uma forma quase intuitiva, os pensamentos nem de longe se organizam como agora... É tudo em outro tempo. Muito parecido com o sonho ;-)
Estava no quarto, só a luz de velas, quando fiquei só e apenas meu marido entrou e fechou a porta:
- Amor... tocou a concha, são 5h30. - moramos em uma comunidade budista e nessa hora há uma prática de meditação diária. - O Dr. Ricardo perguntou se você quer ir para o hospital.
- Eu não vou sair daqui.
- Ele disse que podemos ir, mas precisa ser agora.
(silêncio e voltando para minha caverna)
Lembro que não elaborei nada, mas a ideia de entrar em um carro e depois em um lugar cheio de luz realmente não me atraiu.
Voltei para o chuveiro e aí sim os urros eram de loba. Saí de novo e feito o último exame “10, vai nascer!” Uma vontade gigante de sentar no vaso... voltei para o banheiro. Pouco depois voltei para o quarto e vi a cadeirinha que nos ajuda a sentar de cócoras.
Nossa, não manifestei externamente, mas dentro eu dei um salto de alegria! Sabia que estava perto de ver meu bebê! Ia acontecer a parte mais emocionante!
José, meu marido, ficou sentado na cama, apoiando minhas costas. Nós virados para a janela amarela, leste... O sol começava a iluminar, o dia 24 de março de 2013 amanhecia. Lembraram da música, mesmo tremendo muito (seguia tremendo) selecionei a música que receberia meu filho: Tom Maior.
A partir daí as contrações eram diferentes, eu sentia muito apertado embaixo, muita intensidade e quando a contração vinha eu fazia força... Nesse momento o Dr. Ricardo (ao lado, com a máquina a postos, tocou na minha mão):
- Agora, Vanessa, é relaxar mais, menos força.
Segui respirando, mas relaxei e pude perceber meu corpo todo fazer força, empurrar o bebê... é uma força que eu não controlava, eu era força, urros, presença, suor e entrega.
Senti a cabecinha dele coroar... estava chegando! Senti o círculo de fogo e lembro de pensar “ah, olha o círculo de fogo!” e Antônio escorregou, senti cada partezinha dele saindo de mim.
Não sei dizer o que senti... era um céu, uma imensa possibilidade, mas nada definível. Aquele ser, que a parteira recebeu e acarinhava e secava delicadamente veio logo para meu braços.
Segurei meu filho, miudinho, no meu peito. Outono trouxe Antônio, junto com o sol.
Aquele ser, ainda ligado a mim pelo cordão, começou a tentar mamar. A Zeza me ajudava a posicioná-lo para favorecer a pega. Estava atenta a cada movimento, com energia e adrenalina!
Logo veio suco e comecei a sentir contrações novamente (era a placenta que ia nascer), Antônio sugando no peito, imediatamente o útero começava a trabalhar. A Zezé consolou “Fica tranquila que essa escorrega”. E assim foi.
Parto natural, trabalho de 9 horas, sem interferência, períneo íntegro, bebê nos meus braços. Ho! Que alegria! Todos os procedimentos para pesar, medir e colocar roupa em Antônio foram feito comigo bem pertinho.
Meu marido pegou o que tinha na geladeira e começou a fazer um café da manhã para todos!
Antônio depois de mamar, ser trocado, adormeceu ao meu lado na cama. Eu e José o contemplamos, inebriados pelo milagre que estávamos vivendo.
O primeiro sentimento que pude reconhecer em nossa língua foi gratidão.
Agradeço José Ricardo, meu companheiro que foi um valente e querido, que confiou em mim e me deu todo espaço, me assistiu e me amou todos os instantes. Agradeço a doula Zezé e a parteira Zeza que foram essenciais para que eu mantivesse a coragem de receber as contrações em movimento, para que eu seguisse me entregando, me abrindo e me conectando comigo. Agradeço o Dr. Ricardo, que foi o homem de vidro, seguiu na cozinha, fotografando, ouvindo atento as vogais dos meus urros e convencido, me acompanhou no nascimento do Antônio em casa. Agradeço a minha mãe, que sempre trouxe o nascimento como algo que sabemos fazer, agradeço as minhas avós e tias, por me inspirarem, agradeço a todas as mulheres, deusas, dakinis, yoquines, lobas, feiticeiras que dançaram comigo e agradeço ao meu filho Antônio, por nascer, junto comigo.

Amor imenso,
Assinado: Mamãe

p.s. o primeiro domingo do outono de 2013 foi de um sol lindo, um céu azul imenso, um ventinho leve e um silêncio antes nunca experimentado... A vida renascida!


segunda-feira, 11 de março de 2013

Carta - de nascimentos

 
Antonio, meu filho,

estamos nos gestando e os dias passam demorada e rapidamente... Digo isso porque é inevitável viver o seu crescimento sem notar minha transformação, meus nascimentos e mortes de expectativas e medos, de erros e acertos, de dualidades e de egos. E nessa paisagem, silenciar nos muitos sons que surgem, contemplar os movimentos e confiar no céu...
Seus movimentos são sentidos com muita atenção e repercutem emoções inexplicáveis por aqui. Dá uma vontade imensa de saber dos contornos dos teus braços, pernas, barriga, do seu rosto, do seu cabelo, do seu cheiro...
Percebo que não me sinto ansiosa e faço votos de que você cresça, se alimente, se desenvolva o tempo que for necessário e meu corpo possa te nutrir com muita honra.
Estou aprendendo a confiar em mim, em você, no teu pai... é como aprender a dançar: não dá para elaborar muito. Eu leio, estudo, ouço, mas são nos hiatos que a sabedoria brota além de mim, trazendo a luminosidade perfeita do mundo que é cada ser. É dançar... o corpo sabe o que fazer.
Também me animo ao olhar o mundo que vai te receber... a casa que moramos, as mudanças que teu pai tem feito para você conhecer e brincar, os cachorros lindos, as muitas árvores, os ventos, os pássaros, o gato, a chuva, o telhado verde, as terras, as plantinhas, as ervas, o calor intenso... A música, as danças, as brincadeiras, os abraços, o colorido, o dia, a noite... Nossa, a vida é tão cheia de mistérios e bonitezas que me alegro em saber que você vem para nascer nesse solo brasileiro lindo de tanta gente amada!

Antonio, meu amado, você já é muito bem vindo!
carinho,
assinado: Mamãe

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Carta - de renascer

Davi, meu pequeno amado da tia,

Está sendo uma preciosidade te ver crescer a cada mês... Tua expressão serena, sorridente, leve, presente! Tuas mãozinhas amorosas, teu olhar que mergulha dentro da alma da gente... quanta boniteza dessa vida!
Quero te contar que estou muito, muito feliz em viver mais perto de ti, em viver a experiência de estar perto quando engatinhar, caminhar, falar, dançar!
Vamos brincar muito, tenho certeza de que você vai ligar pra nós querendo ver os cachorros, querendo brincar pelo caminho do meio e nós vamos te buscar para amassar e amar muito.
Você, Davi foi o início da cura do meu coração... No dia em que te peguei nos braços, trazia um último mês de dor, tristeza, falta de apetite, mas ainda, uma confiança que me atravessava.
Ao entrar no quarto da tua mãe, ela generosa e linda, me entregou você: pequeno, pequeno e que foi capaz de fazer brotar e expandir as emoções mais ricas e lindas. Lembro que pensei: "nossa... nada importa mais..." e uma sensação de paz me tomou, vinda da tua presença forte.
Sou grata por ter tido esse mérito. Você mostrou luz de dentro do meu coração.
Eu te amo e vou amar para sempre.

muitos beijos e cheiros,
assiando: tia favorita

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Carta - pai

Querido pai,

quero lhe dizer que o amo muito e que aspiro que você seja muito, muito feliz. Que você seja sempre invadido pelo amor vivo e pela serenidade risonha. Sabe que seu sorriso é lindo?
Agradeço por cozinhar para nós tão caprichosamente, pelos churrascos, pelas chegadas às sextas-feiras e corridas no portão, pelas brincadeiras nas piscinas, pelos passeios de bicicleta (todos nós!) aos domingos, pelas muitas, muitas, muitas viagens, pelas paisagens e por sempre trazer sua delicadeza...
Tenho guardado muito carinhosamente a cena de algum dia muito ensolarado no Rio de Janeiro e, enquanto brincávamos na areia, você foi buscar água no mar. Não esqueço da sua alegria honesta em trazer aqueles baldinhos coloridos, segurando-os como que a trazer o tesouro da vida dentro, seus passos na nossa direção. Você brilhava, junto do sol.
E não esqueço de todo domingo vocâ cantarolar parlendas e músicas tradicionais...

"...Como poderei viver, como poderei viver...
Sem a tua, sem a tua, sem a a tua companhia..."

Pai, menino grande, de amor e braços fortes, dedico essa música à você:

http://www.youtube.com/watch?v=s2IAZHAsoLI

Haverá um dia em que você não haverá de ser feliz.
Sem tirar o ar, sem se mexer, sem desejar como antes sempre quis.
Você vai rir, sem perceber, felicidade é só questão de ser.
Quando chover, deixar molhar pra receber o sol quando voltar.
Lembrará os dias que você deixou passar sem ver a luz.
Se chorar, chorar é vão porque os dias vão pra nunca mais.

Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e depois dançar, na chuva quando a chuva vem.
Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e dançar.
Dançar na chuva quando a chuva vem.

Tem vez que as coisas pesam mais do que a gente acha que pode aguentar.
Nessa hora fique firme, pois tudo isso logo vai passar.
Você vai rir, sem perceber, felicidade é só questão de ser.
Quando chover, deixar molhar pra receber o sol quando voltar.

Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e depois dançar, na chuva quando a chuva vem.
Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e dançar.
Dançar na chuva quando a chuva vem.

todo amor,
assinado: Filhota

domingo, 25 de dezembro de 2011

Carta - nascimento!

Amado sobrinho,
Que alegria saber que você vem para esse mundo... Realmente não tenho ideia do que sua mãe e seu pai sentem, mas acredito que seja algo perto do indefinível, porque eu sinto meu ser todo pulsar de amor por você.
Quero que você saiba que seu coração estará sempre aqui dentro do meu: a cada prece, a cada nova inspiração, a cada novo amanhecer...
Estou feliz porque você terá uma mãe linda, de olhos luminosos, de garra e de uma integridade colorida, você conhecerá uma mulher que faz tantos movimentos ao mesmo tempo e que tem a habilidade de torná-los todos uma coreografia harmoniosa.
Estou feliz porque você terá um pai lindo também, de uma tranquilidade do mar na bonança, de um humor gostoso e de uma força incessante.
Você terá avós maternos parceiros, presentes e muito fofos! Você terá avós paternos há alguns quilômetros de distância, mas muito amorosos e que vão contar os dias para te encontrar sempre que puderem!
Você terá tios loucos por você... loucos para brincar, para rir e aprender com cada descoberta sua.
Você terá essa tia aqui, que embora more em outro estado, vai te ver sempre que puder, vai te encher de livros, de histórias, de músicas e de danças... E está ansiosa para aprender novos passos com você!

Te amo, Davi! Seja bem vindo!

Essa música, eu dedico à você:

Sua mãe e eu
Seu irmão e eu
E a mãe do seu irmão
Minha mãe e eu
Meus irmãos e eu
E os pais da sua mãe
E a irmã da sua mãe
Lhe damos as boas-vindas
Boas-vindas, boas-vindas
Venha conhecer a vida
Eu digo que ela é gostosa
Tem o sol e tem a lua
Tem o medo e tem a rosa
Eu digo que ela é gostosa
Tem a noite e tem o dia
A poesia e tem a prosa
Eu digo que ela é gostosa
Tem a morte e tem o amor
E tem o mote e tem a glosa
Eu digo que ela é gostosa
Eu digo que ela é gostosa
Sua mãe e eu
Seu irmão e eu
E o irmão da sua mãe
(Caetano Veloso - Boas vindas)

todo amor em flor,
assinado: tia dançadeira

sábado, 25 de junho de 2011

Carta - futuros namorados

Queridos namorados (eu e você),

Hoje assistimos a um filme precioso e quero deixar registrado um pouco das sensações que me povoaram e um tanto do que presenciei em nossos olhos.
Gostaria de assistí-lo novamente daqui uns anos para ver o que nascerá então dos nossos corações, podemos combinar isso, o que acha?
O casal do filme vive um período difícil de desencontros, de mudança, de mortes... Você sabe como isso faz sentido pra mim, né? Os finais, os ciclos, as mortes de tempos em tempos... O título em português é uma espécie de pegadinha... a mesma história que ficaram nos contando, enquanto crescíamos: de que "os opostos se atraem", de "viver feliz para sempre" e blá, blá, blá...
Ninguém nos disse que tudo acaba, tudo tem um fim, porque tudo tem um começo! Ainda que pareça óbvio, não é nada clichê. É quase cético e mal educado falar dessa forma...
No entanto, eu olho para isso e vejo riqueza, vejo brilho, vejo raridade. O filme é ousado, cru e delicado...
Um privilégio dar-se conta da morte. Antes dos 30 anos podemos contemplar esse ensinamento: da mudança, da impermanência, da transformação, da morte... ou de outros nomes que queira dar, mas olhar para o fim.
O casal na tela vive isso, eles não são mais aqueles de 5 anos atrás que cantaram e dançaram na rua, que se olhavam tão apaixonadamente e sem ar. Agora eles se esbarram e isso já causa desconforto.
Uma frase do filme ficou gravada (mais ou menos assim): "Como podemos confiar nos sentimentos se, de repente, eles desaparecem?"
Penso que é aí que está o mistério e a preciosidade toda: não vamos confiar em nossos sentimentos! Eles mudam... assim como o desenho das nuvens, que muda de acordo com o olho de quem olha, de acordo com a velocidade do vento...
Vamos confiar no céu! É dali que surge o vento, a nuvem, as cores, nossos olhos, as sensações... Há poucos momentos de céu liberto no filme... as paredes, a confusão e o ego impedem-os de ver além, de parar, de silenciar. É quase bobo ver que foi tudo construído, que a brincadeira era uma, daí mudou e eles não viram e estão lá se debatendo em jogos sem sentido. As discussões não fazem sentido! São vazias... o conteúdo é vazio, o que está transbordando é a energia de cada um e dos dois...
Uma imensa felicidade me invadiu quando os fogos começaram, nosso abraço me lembrou o abraço das relíquias: protegido, livre e presente.
Nesse momento não quero ver outra imagem, nem ouvir outro som... estou encharcada do cinema, da música, do sapateado, da Cindy, do Dean, de mim e de você. E fico aqui... sentindo tudo, até secar...

com amor confiante no céu,
assinado: Preta

terça-feira, 3 de maio de 2011

Carta - de saudade e de parceria

Mano meu,

Voltei do trabalho ouvindo umas das suas músicas... "um homem quando está em paz não quer guerra com ninguém" e que saudade me invandiu! Saudade do seu sorriso, da sua voz (ao vivo!), das nossas conversas, das vezes que cozinhas juntos, rimos juntos, dançamos juntos e causamos juntos na balada dançando côco em meio à batida eletrônica ;-)
Que parceira boa, né? Uma diversão leve e verdadeira, uma lealdade e amor sem condições. "Toda positividade eu desejo à você", desejo que o mar possa te ensinar, entre outras coisas, que somos mar... e nesse sentido ondas diferentes, ora mais forte, mais alta, mais leve, marolinha... ou de ressaca, quase um perigo. Nesse momento é importante lembrar: somos o mar, podemos nos desfazer e refazer a cada instante.
Meu irmão, parceiro de tanta brincadeira, estou aqui, na selva de pedras, mas dentro de mim levo o mar e o sol... e levo você, porque sem você não sou inteira.

saudade e amor,
assinado: Lóri

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Carta - amor nascido e criado

Manos meus,

Estou devendo essa carta... As férias terminaram faz mais de um mês e fiquei remoendo todas as letras e acentos dentro de mim. Posso me justificar: ao retornar senti uma tristeza que nunca havia sentido em alguma volta de viagem de férias... Passei aquela terça querendo que o sol se escondesse, querendo não desfazer as malas cheias de blusas e cachecóis do frio sulista...
Os dias que passamos juntos, apenas nós três, foram inesquecíveis e pareciam até intermináveis de tão grandes e fundos de alegria. O pôr do sol presenciou toda a brincadeira, todos os risos e conversas.
Sou muito orgulhosa da nossa confiança... do quanto somos confidentes um ao outro, do quanto nos aceitamos, nos respeitamos e nos amamos. E digo, não esse amor piegas, sim um amor de opinião e firmeza, mas de acalanto, de aconchego e de criança.
Penso que a vantagem desse amor nascido de irmãos, seja o fato de que podemos sempre nos olhar como crianças novamente, e lembrar que fomos tantos, somos tantos outros, seremos ainda mais e ao mesmo tempo não esperamos nada. Nós somos ali, bem na frente um do outro, ou bem ao lado um do outro, ou enquanto aprendemos a brincar um jogo de mãos cantarolando um côco! Ah e isso mais de meia noite ;-)
É uma lindeza mesmo... é uma escolha. Nós criamos isso... Caminhamos, cozinhamos, bebemos, brincamos, cantamos, rimos, vimos filme, dançamos... e tantos outros verbos.
Os dias que vivemos juntos foram perfeitos, inteiros e felizes. A brincadeira de côco, o segredo contado em voz alta, o abraço sem hora marcada, as músicas no violão desafinado, as caminhadas iluminadas pelas ruas da cidade fria, o chimarrão compartilhado e aprendido, a não vontade de dormir e querer dormir tudo junto num sofá-cama muito apertado e duro!
Agradeço por vocês existirem, vocês são a minha riqueza e minhas metades

amor,
assinado: Mana

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Carta - irmãs feitas

Querida menina,

Sei que nos encontramos rapidamente essa semana, por um acaso e talvez uma vontade do universo também. Encontrar-te na rampa entre pensamentos soltos foi, como todos os encontros nossos, uma alegria colorida. Você está cada dia mais linda, como dá? O mundo fica até sem jeito...
Lembro do primeiro dia em que nos vimos: "Ela é quem vai trabalhar com você, achei que vocês combinavam". E que bom ter sua parceria todas as tardes, ter sua presença tranquila e confiante. E que ano aquele... conhecer, arriscar, rir, confidenciar, esperar, respirar e o exame, a descoberta de um ser que se fazia dentro de ti, um ser feito de amor, de promessas de almas apaixonadas... Menina, suas histórias são para mim de morango, de vaga-lumes, de coisas plenas e belas.
Eu adorava ser confundida contigo... Às vezes acontece ainda, e sinto um orgulho calmo e sorridente. Afinal você é um dos seres mais lindos e amorosos que já conheci!
Mesmo sem a convivência, nos sentimos próximas, nos carregamos dentro e os hiatos que acontecem não me tiram, nem diminuem o amor que sinto por ti. Não tenha receio, eu rego sempre a plantinha e você vai regar também ;-)
Seu abraço é o abraço mais inteiro que já experimentei. Você abre um universo inteiro, a alma voa e se sente protegida.
Saiba que estou aqui/aí sempre, porque como disse o poeta "a vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida". E nosso amor, minha menina, é uma poesia.

um cheiro,
assinado: sua Flor