domingo, 26 de julho de 2009

Carta - pequenos

Queridos pequenos,

As férias estão quase no fim, e o frio veio trazer mais vontade de ficar encolhida embaixo das cobertas tomando um chá bem quentinho! Como vocês estão? Quem ficou por aqui vai voltar branquinho, mas quem viajou para outros lugares talvez traga umas marquinhas de sol!
Eu posso contar que fiquei por aqui, então estou bem branquinha ;-) Mas dancei bastante e aprendi umas brincadeiras que quero muito fazer junto com vocês. Vamos continuar nossas rodas de conversa, história, brincadeiras, jogos, pesquisa... e vamos inventar outros tipos de rodas também!
Sonhei com vocês alguns dias, e lembrei de cada rostinho! Estive em alguns lugares da nossa cidade, fui ao centro histórico, e lembrei daquele dia em que uma chuva muito forte nos fez voltar à escola antes de completar todo o roteiro de estudo de meio! Como ficamos chateados, né? Mas pudemos ver como alguns planejamentos que temos, simplesmente podem não acontecer. Estudamos, nos preparamos, vimos mapas, mapas por satélite e cabrum! Isso porque não temos controle, sabem? E não é só em relação à chuva, mas em relação à cada segundo que se faz em nossas vidas. Não contamos com algumas trovoadas ou com algum inseto que surge no caminho.
Temos mais alguns meses juntos, dia-a-dia, vida-a-vida, e percebo que nossa cumplicidade aumenta e que temos a possibilidade de nos nascer a cada segunda-feira ;-)
Espero vocês daqui uns dias na nossa sala que é testemunha das nossas risadas e maluquices no caminho do aprender!

um beijo bem grande e apertado!
assinado: Eu, aprendiz de nós!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Inspirações IV

"[...] não há a menor razão para afirmar que a noção de "eu" deve ser aplicada a mim e não a outro. "Eu" e "outro" não são nada mais que uma questão de conceitos rotulados. O meu "eu" é o "outro" para outra pessoa, e quem para mim é o "outro" é o "eu" de outra pessoa.

As noções de "aqui" e "lá" são meros pontos de vista, designados pela mente, um em dependência do outro. Não há algo como um "aqui" absoluto ou um "lá" absoluto. É apenas uma questão de atribuição. E, assim, sobre esse ponto crucial, o Dharma ensina que quando o "eu" é atribuído como sendo os outros -- especificamente, seres sencientes -- a atitude de aceitá-los e vê-los como nós mesmos vai surgir naturalmente.

É assim que Budas e Bodisatvas reivindicam os seres sencientes como sendo eles mesmos, do modo explicado acima. Então, mesmo a mais leve dor dos outros, para eles é como se todos os seus corpos estivessem em chamas. E eles não têm a menor hesitação nisso, como quando Buda afirmou ser o cisne que Devadatta derrubou com uma flecha."

Kunzang Pelden (Tibete, 1872-1943)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Carta - juninas

Querida dançarina,

Como estão todos? E esse mês de julho que inicia e segue trazendo o frio de junho? Está tomando algum quentão ou vinho quente? Hum... tomei uns e encontrei um quentão sem álcool que adorei!
Serzinho dançante, é preciso dizer: estive nas melhores festas juninas da minha vida! Sério, não estou exagerando... O que me encantou além das danças, das brincadeiras, das comidas deliciosas, das bebidas quentes, das bandeirinhas, das rodas, foi a abertura, foi o convite para brincar junto. Quanta gente linda, pulante, quanta música luminosa... O chão parecia estar no céu, entende?
Amei, amei... as pessoas não estavam bêbadas (sinceramente, vi pouquíssimos), elas estavam brincando mesmo, brincando de dançar, brincando de ser, brincando de estar, sorrindo no olhar!
Festa de escola, barracas, professores de trancinha, pais com máquinas, crianças correndo, dançando, cantando, abraços e quadrilha com todo mundo "junto em uma coisa só"!
Festa improvisada, samba de roda delicioso, com samba chulo, e umbigada... lindo de dançar, de bater palmas, de cantar, de ver saia rodar, de ver moço tirar o chapéu! Forró de rabeca, e certamente, quadrilha ;-)
Festa generosa, com mesas enfeitadas de frutas, o ambiente com velas contentes. Caldo, milho, bolos de milho, fubá, aipim, arroz doce, curau, quentão, vinho quente, vinhos, sucos... O que era aquilo? Uma enorme e linda fogueira ao lado de fora! Quadrilha, forró do bom, roda de côco... gente que dança, que aprende, que ensina, que fascina!
Festa de brincar, roda de jongo, côco, cavalo marinho e mais e mais outras. Samba, forró, batucada... brincar de dançar, de ser animal, de cair, de rir e bater palmas ao assistir Antônio Nóbrega cantando, dançando e contagiando todo mundo para brincar junto!
Festa de rua, uma vila com vizinhos animados, comidas e bebidas compartilhadas, som alto e muita pintinha no rosto: a senhora que dança com a criança, que corre em volta das amigas que falam e sorriem ao ver porque não conseguiram dormir de manhã ;-)
Querida, levei você comigo em todas as festas e fomos iniciadas na música e dança da cultura popular por gente que quer mais é abrir essa roda!

Assinado: eu dançando de você (ou: você dançando de mim)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Inspirações III

Querido poeta - Correspondências de Vinicius de Moraes
(organização Ruy Castro)
Companhia das Letras

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Carta - para comer

Querido maninho caçula (diuo...),

Que saudade senti de você hoje! Você sabe que eu sempre sinto saudade de você (eu e toda a tropa que mora no estado de São Paulo...) Mas é que hoje foi um dia singular, e você era o ingrediente que estava faltando...
Eu e mano passamos o dia juntos aqui na minha casinha que tem vista para um monte de prédio, sendo que, no primeiro plano há uma bananeira ;-)
Resolvemos cozinhar, e certamente seria um cardápio vegetariano... Estava com uma vontade imensa de comer polenta, é polenta! A polenta que comíamos, principalmente no sítio quando estávamos em férias. Estou em férias... então fui olhar uma receita de como fazer polenta! (Nunca tinha feito!! Ai que medo!!)
Enquanto nosso mano ficou mexendo a polenta, (precisa mexer muito, por uns 30 minutos!!), cortei cebolas, tomate, fiz um molho com soja (ou melhor, proteína vegetal) e cortei uma saladinha de couve. Hum!!
Tudo foi temperado a muita conversa sincera, sonhos, algum puxão no pé para que a criatura flutue, mas não se perca no espaço... algumas confissões que meus armários encerram mudos. Lembramos como a mãe gosta de sentar para convesar - em cima das mãos:-) , do pai comendo pimenta. Noites comendo muita pipoca (ou pão de queijo) na sala. Dias em que saímos para andar de bicicleta para ver o domingo se esconder no horizonte.
E como você seria importante nessa conversa, conversa sobre nossa vidas, que passam, dançam e se fazem bem aí/aqui, como em um filme. Sentimo-nos sem controle. Somos tantos personagens, tantas trilhas sonoras. Em que cena estávamos/estamos/somos mesmo?
Fomos ao cinema ;-) Rir, imaginar, brincar e saber que o dia azul, seria ainda mais lindo com seus olhos verdes a nos abraçar.

com toda saudade do mundo,
sua Mana

p.s. Lembrei do que a Clarice Lispector diz sobre saudade:

"Saudade é um pouco como fome.
Só passa quando se come a presença.
Mas às vezes a saudade é tão profunda
que a presença é pouco:
quer-se absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro
para uma unificação inteira
é um dos sentimentos mais urgentes
que se tem na vida."